Wednesday 11 April 2012


Siga a estrada de tijolos amarelos...


Em uma das mais famosas cenas do Mágico de Oz, Dorothy juntamente com seus amigos pergunta como ela consegue achar o caminho para encontrar-se com o tão famoso mágico. Neste momento ela é instruída para seguir a estrada de tijolos amarelos, e que no final, ela encontrará o tão esperado mágico que irá lhe conceder a realização não só do seu desejo, mas de todos os seus amigos. O filme por si só é uma estória de coragem e autoconhecimento, e serve perfeitamente para que eu possa traçar a analogia que tenho em minha mente.

Eu atravessei as três primeiras décadas da minha vida, ouvindo as pessoas mais idosas, portanto mais sabias à minha volta dizendo-me que toda pessoa, por mais danos que tenha feito, merece uma segunda chance na vida, que não importa o quanto fomos magoados por alguém ou uma situação e mesmo o quanto você veio a sofrer em decorrência destes atos alheios. Isso colocado assim chega a ser injusto, e eu já posso ver a cara de alguns torcendo e os olhos se revirando. Bom, deixe a revolta e o “sentimento de vingança“ de lado por um momento e pense, mas pense com o coração. Com certeza a pessoa que te magoou teve as suas razões para fazer o que fez, e necessariamente, como tudo na vida, tem explicação.

Outra verdade inegável no mundo é que, infelizmente, tudo nessa vida tem explicação, não é verdade? Se você parar para pensar, mesmo um estuprador, ou um assassino consegue explicar as razões que o levaram a cometer os seus atos. Isso não quer dizer que você concorde com elas, mas que todo mundo é capaz de explicar seus atos... É uma verdade!  Mesmo que você fique com “cara de pombo“ na frente da pessoa escutando a ladainha entrar pelos seus ouvidos e não atingir o cérebro. E quero deixar claro aqui que eu não acho que somos obrigados a perdoar ninguém simplesmente pelo ato d perdoar, se bem que os religiosos de plantão preguem o contrario, e eu mesmo já aqui disse muitas vezes que sou espirita, mas não sou palhaço, portanto não abuse da minha boa vontade. O exercício aqui é escutar, apenas ouvir as explicações, para depois tomar uma decisão, e se o perdão brotar, ele vai ser genuíno e não algo que venha da “boca para fora“.

Dizem que o tempo é o melhor remédio que existe para curar mágoas. Eu particularmente, não concordo com isso. Acredito que o tempo tira o foco da mágoa, mas o fato acontecido estará sempre lá, e todas as vezes que nos lembramos da situação, revivemos as emoções. Isso é um processo que acontece com todos nós, de tempos em tempos focamos nossa consciência nas figuras do passado, e aqui, acontece algo interessante. Na maior parte das vezes, a dor ou a mágoa já não tem o mesmo peso que outrora teve, conseguimos rever fatos, até então consumados e julgados, à luz de outra teoria, e às vezes dúvidas surgem, se tomamos a atitude correta, ou melhor, se a dose do remédio foi mesmo na medida certa. Aqui surge as minhas perguntas, qual é a razão pela qual continuamos a negar o perdão, se a dor já não é mais a mesma? Porque é isso que a sociedade espera de nós? Vivemos em um mundo em que perdoar e sinônimo de fraqueza? Devemos mesmo dar uma segunda chance para aqueles que nos fizeram sofrer, ou que traíram nossa confiança? O perdão é algo que realmente nos liberta e faz com que prossigamos nossa caminhada de uma forma mais leve?

Sempre achei que eu sou, ou que pelo menos eu era, uma pessoa com a capacidade de perdoar muito pequena. Digo mais, sempre acreditei que sou uma pessoa extremamente orgulhosa e que como tal, pedir perdão era coisa para os fracos. Que as pessoas comigo sempre só teriam uma chance. Olhando para meu passado, vejo que na maior parte das vezes eu sempre fui o tipo de individuo que preferia “deixar” uma situação do jeito que ela era do que enfrentá-la de forma adulta. Hoje, sei que era por pura falta de maturidade, nunca por falta de princípios, mais ainda, talvez por medo. E por falar em medo, eu não tenho receio nenhum ou mesmo vergonha de admitir isso publicamente nessa altura da minha vida. As pessoas que me conhecem sabem que possuo vários exemplos de situações em meu passado onde eu reagi de forma a tomar o caminho mais curto. Tomando decisões precipitadas, rotulando pessoas, e agindo como se eu estivesse em um tribunal americano, onde pessoas são condenadas pelo simples fato de dizer sim ou não. Analisar as opções com calma e ponderação não eram as minhas melhores qualidades durante os primeiros vinte e cinco anos da minha vida. Meu irmão mais velho possui um chavão que diz “Vamos deixar do jeito que está para ver como é que fica”, ou seja, a atitude era de não enfrentar, deixar o problema de lado, e claro com isso deixando pessoas também ao longo do caminho. Sempre foi mais fácil eliminar essas pessoas da minha vida do que questionar internalizações arraigadas no seio da minha personalidade. O exercício de não pensar no assunto, aliviava de certa forma, como se assim os fatos pudessem desparecer não gerando conflito ou ansiedade.

Uma das coisas boas da idade é a capacidade de discernimento, verdade seja dita que muitas pessoas não chegam nunca lá, mas eu prefiro me focar no lado positivo da humanidade aqui e falar apenas daqueles que evoluem, não estou com paciência para dissertar a respeito dos preguiçosos de plantão. Enfim, nos últimos tempos eu tive a oportunidade de reencontrar pessoas, as quais eu havia trancado em meu passado para sempre. Sabe aquelas pessoas que do nada passam pelo seu pensamento, mas que imediatamente você associa com um fato ruim e automaticamente nós varremos da nossa consciência? Pois é, assim eu seguia, acreditando que essas pessoas nada mais eram do que marcos de quilômetros ao longo da minha estrada, que ao longo do tempo, por minha culpa, não lhes foram dada permissão para fazerem parte do meu presente e consequentemente nunca existiriam no meu futuro.  Acontecimentos específicos não são necessários aqui, mas falar das possibilidades que estamos aniquilando ao não nos permitir sequer reavaliar acontecimentos, estas sim eu preciso falar sobre.

Tenho tentado reparar danos causados, e baseado nisso tenho me permitido estar em contato com pessoas do meu passado, que para minha imensa surpresa, foram experiências muito agradáveis. Eu achava que iríamos falar de fatos específicos do nosso passado. Ironicamente, não falamos de coisas passadas, ou pelo menos não dos acontecimentos que nos levaram a trilhar caminhos distintos na vida, falamos sim de coisas agradáveis, rimos de momentos que ficaram lá atrás, lembranças de um tempo em que acreditávamos em coisas que hoje sabemos eram apenas sonhos de adultos jovens e frutos de nossas próprias inexperiências. No final, acabamos por fazer planos de nos ver novamente em um futuro próximo. Voltei para casa com a alma mais aliviada por finalmente ter tido a oportunidade de rever meus conceitos e pré-conceitos com o discernimento que possuo hoje.

O que aconteceu, ficou no passado, já não tem mais importância, lições foram aprendidas, e embora eu saiba que nunca mais as relações serão as mesmas, ainda existe a possibilidade não de reconstruir, mas de construir novamente, e a razão pela qual continuamos a negar o perdão, mesmo quando a dor já não é mais a mesma é devido ao fato de que é exatamente isso que a sociedade espera de nós. Não podemos ser fracos, somente pessoas inferiores perdoam um inimigo ou alguém que lhe causou dor.

Nós não temos a obrigação de conceder segundas chances para aqueles que nos fizeram sofrer, ou que traíram nossa confiança, ou mesmo a obrigação de perdoar alguém se não sentimos que isso é o correto a ser feito, mas temos sim, a obrigação de dar o peso real aos fatos acontecidos em nossa vida, e o perdão é sim algo que realmente nos liberta e faz com que prossigamos nossa caminhada de uma forma mais leve. Mais ainda, eu acredito que as pessoas mudam com a idade, bem verdade que algumas mudam para pior, mas no geral, elas tornam-se mais amenas uma vez que a própria vida ensina muitas coisas, boas e ruins, e que devemos sim, exercitar a bondade em nossos corações, nos permitir ver as pessoas como elas são, com suas qualidades, defeitos e deficiências. Devemos nos esforçar para perceber os esforços das pessoas para conosco, se assim fizéssemos, talvez o mundo e as relações humanas fosse mais fáceis e consequentemente teríamos pessoas mais felizes.

Desejo uma semana com muita luz para você, com discernimento para usar a balança da vida e dar o peso adequado a cada fato que carregamos sobre nossos ombros. Você vai perceber que a estrada de tijolos amarelos nem é tão sinuosa ou cheia de perigos como parece, e que existe um mágico em algum lugar depois do arco-íris.

Laureano Marques

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