Siga a estrada de tijolos amarelos...
Em uma das mais
famosas cenas do Mágico de Oz, Dorothy juntamente com seus amigos pergunta como
ela consegue achar o caminho para encontrar-se com o tão famoso mágico. Neste momento
ela é instruída para seguir a estrada de tijolos amarelos, e que no final, ela
encontrará o tão esperado mágico que irá lhe conceder a realização não só do
seu desejo, mas de todos os seus amigos. O filme por si só é uma estória de
coragem e autoconhecimento, e serve perfeitamente para que eu possa traçar a
analogia que tenho em minha mente.
Eu atravessei
as três primeiras décadas da minha vida, ouvindo as pessoas mais idosas,
portanto mais sabias à minha volta dizendo-me que toda pessoa, por mais danos
que tenha feito, merece uma segunda chance na vida, que não importa o quanto
fomos magoados por alguém ou uma situação e mesmo o quanto você veio a sofrer em
decorrência destes atos alheios. Isso colocado assim chega a ser injusto, e eu
já posso ver a cara de alguns torcendo e os olhos se revirando. Bom, deixe a
revolta e o “sentimento de vingança“ de lado por um momento e pense, mas pense
com o coração. Com certeza a pessoa que te magoou teve as suas razões para
fazer o que fez, e necessariamente, como tudo na vida, tem explicação.
Outra
verdade inegável no mundo é que, infelizmente, tudo nessa vida tem explicação,
não é verdade? Se você parar para pensar, mesmo um estuprador, ou um assassino
consegue explicar as razões que o levaram a cometer os seus atos. Isso não quer
dizer que você concorde com elas, mas que todo mundo é capaz de explicar seus
atos... É uma verdade! Mesmo que você
fique com “cara de pombo“ na frente da pessoa escutando a ladainha entrar pelos
seus ouvidos e não atingir o cérebro. E quero deixar claro aqui que eu não acho
que somos obrigados a perdoar ninguém simplesmente pelo ato d perdoar, se bem
que os religiosos de plantão preguem o contrario, e eu mesmo já aqui disse
muitas vezes que sou espirita, mas não sou palhaço, portanto não abuse da minha
boa vontade. O exercício aqui é escutar, apenas ouvir as explicações, para depois
tomar uma decisão, e se o perdão brotar, ele vai ser genuíno e não algo que
venha da “boca para fora“.
Dizem que o
tempo é o melhor remédio que existe para curar mágoas. Eu particularmente, não
concordo com isso. Acredito que o tempo tira o foco da mágoa, mas o fato
acontecido estará sempre lá, e todas as vezes que nos lembramos da situação,
revivemos as emoções. Isso é um processo que acontece com todos nós, de tempos
em tempos focamos nossa consciência nas figuras do passado, e aqui, acontece
algo interessante. Na maior parte das vezes, a dor ou a mágoa já não tem o
mesmo peso que outrora teve, conseguimos rever fatos, até então consumados e
julgados, à luz de outra teoria, e às vezes dúvidas surgem, se tomamos a
atitude correta, ou melhor, se a dose do remédio foi mesmo na medida certa. Aqui
surge as minhas perguntas, qual é a razão pela qual continuamos a negar o
perdão, se a dor já não é mais a mesma? Porque é isso que a sociedade espera de
nós? Vivemos em um mundo em que perdoar e sinônimo de fraqueza? Devemos mesmo
dar uma segunda chance para aqueles que nos fizeram sofrer, ou que traíram
nossa confiança? O perdão é algo que realmente nos liberta e faz com que
prossigamos nossa caminhada de uma forma mais leve?
Sempre
achei que eu sou, ou que pelo menos eu era, uma pessoa com a capacidade de perdoar
muito pequena. Digo mais, sempre acreditei que sou uma pessoa extremamente
orgulhosa e que como tal, pedir perdão era coisa para os fracos. Que as pessoas
comigo sempre só teriam uma chance. Olhando para meu passado, vejo que na maior
parte das vezes eu sempre fui o tipo de individuo que preferia “deixar” uma situação
do jeito que ela era do que enfrentá-la de forma adulta. Hoje, sei que era por
pura falta de maturidade, nunca por falta de princípios, mais ainda, talvez por
medo. E por falar em medo, eu não tenho receio nenhum ou mesmo vergonha de
admitir isso publicamente nessa altura da minha vida. As pessoas que me
conhecem sabem que possuo vários exemplos de situações em meu passado onde eu
reagi de forma a tomar o caminho mais curto. Tomando decisões precipitadas,
rotulando pessoas, e agindo como se eu estivesse em um tribunal americano, onde
pessoas são condenadas pelo simples fato de dizer sim ou não. Analisar as opções
com calma e ponderação não eram as minhas melhores qualidades durante os
primeiros vinte e cinco anos da minha vida. Meu irmão mais velho possui um chavão
que diz “Vamos deixar do jeito que está para ver como é que fica”, ou seja, a
atitude era de não enfrentar, deixar o problema de lado, e claro com isso
deixando pessoas também ao longo do caminho. Sempre foi mais fácil eliminar essas
pessoas da minha vida do que questionar internalizações arraigadas no seio da
minha personalidade. O exercício de não pensar no assunto, aliviava de certa
forma, como se assim os fatos pudessem desparecer não gerando conflito ou
ansiedade.
Uma das
coisas boas da idade é a capacidade de discernimento, verdade seja dita que
muitas pessoas não chegam nunca lá, mas eu prefiro me focar no lado positivo da
humanidade aqui e falar apenas daqueles que evoluem, não estou com paciência para
dissertar a respeito dos preguiçosos de plantão. Enfim, nos últimos tempos eu
tive a oportunidade de reencontrar pessoas, as quais eu havia trancado em meu passado
para sempre. Sabe aquelas pessoas que do nada passam pelo seu pensamento, mas
que imediatamente você associa com um fato ruim e automaticamente nós varremos
da nossa consciência? Pois é, assim eu seguia, acreditando que essas pessoas
nada mais eram do que marcos de quilômetros ao longo da minha estrada, que ao longo
do tempo, por minha culpa, não lhes foram dada permissão para fazerem parte do
meu presente e consequentemente nunca existiriam no meu futuro. Acontecimentos específicos não são necessários
aqui, mas falar das possibilidades que estamos aniquilando ao não nos permitir
sequer reavaliar acontecimentos, estas sim eu preciso falar sobre.
Tenho
tentado reparar danos causados, e baseado nisso tenho me permitido estar em
contato com pessoas do meu passado, que para minha imensa surpresa, foram
experiências muito agradáveis. Eu achava que iríamos falar de fatos específicos
do nosso passado. Ironicamente, não falamos de coisas passadas, ou pelo menos não
dos acontecimentos que nos levaram a trilhar caminhos distintos na vida, falamos
sim de coisas agradáveis, rimos de momentos que ficaram lá atrás, lembranças de
um tempo em que acreditávamos em coisas que hoje sabemos eram apenas sonhos de
adultos jovens e frutos de nossas próprias inexperiências. No final, acabamos
por fazer planos de nos ver novamente em um futuro próximo. Voltei para casa
com a alma mais aliviada por finalmente ter tido a oportunidade de rever meus conceitos
e pré-conceitos com o discernimento que possuo hoje.
O que
aconteceu, ficou no passado, já não tem mais importância, lições foram
aprendidas, e embora eu saiba que nunca mais as relações serão as mesmas, ainda
existe a possibilidade não de reconstruir, mas de construir novamente, e a
razão pela qual continuamos a negar o perdão, mesmo quando a dor já não é mais
a mesma é devido ao fato de que é exatamente isso que a sociedade espera de nós.
Não podemos ser fracos, somente pessoas inferiores perdoam um inimigo ou alguém
que lhe causou dor.
Nós não
temos a obrigação de conceder segundas chances para aqueles que nos fizeram
sofrer, ou que traíram nossa confiança, ou mesmo a obrigação de perdoar alguém
se não sentimos que isso é o correto a ser feito, mas temos sim, a obrigação de
dar o peso real aos fatos acontecidos em nossa vida, e o perdão é sim algo que
realmente nos liberta e faz com que prossigamos nossa caminhada de uma forma
mais leve. Mais ainda, eu acredito que as pessoas mudam com a idade, bem verdade
que algumas mudam para pior, mas no geral, elas tornam-se mais amenas uma vez
que a própria vida ensina muitas coisas, boas e ruins, e que devemos sim,
exercitar a bondade em nossos corações, nos permitir ver as pessoas como elas são,
com suas qualidades, defeitos e deficiências. Devemos nos esforçar para
perceber os esforços das pessoas para conosco, se assim fizéssemos, talvez o mundo
e as relações humanas fosse mais fáceis e consequentemente teríamos pessoas
mais felizes.
Desejo uma
semana com muita luz para você, com discernimento para usar a balança da vida e
dar o peso adequado a cada fato que carregamos sobre nossos ombros. Você vai
perceber que a estrada de tijolos amarelos nem é tão sinuosa ou cheia de
perigos como parece, e que existe um mágico em algum lugar depois do arco-íris.
Laureano
Marques