Tuesday 20 March 2012

Anjos


Para as poucas pessoas que costumam seguir o meu blog, não é surpresa nenhuma o fato de eu não ter postado nada há mais de um ano e meio. A razão pela qual isso aconteceu? Possuo algumas pistas, mas certeza, eu não tenho. O certo é que o tempo foi passando, a vida seguindo, e apesar de continuar escrevendo, eu já não compartilhava mais minhas ideias. O mais interessante, para não dizer outra coisa, e que a nossa trajetória e mesmo feita de ciclos, pois dezoito meses depois estou eu aqui, novamente, passando pelo mesmo turbilhão de emoções que me inspiraram a começar este blog. Uma vez tulipa, sempre tulipa!

Quero acreditar que as experiências vividas fizeram-me uma pessoa mais forte e consequentemente alteraram meus comportamentos para melhor, que o fato de perceber novos padrões de comportamento em mim, e também nas outras pessoas ao meu redor, identificar ações e reações às quais eu não conseguia, e claro, terapia… ah a velha amiga terapia; de alguma forma ajudou a direcionar  luz nos cantos escuros da minha mente. Tenho plena consciência que alguns comportamentos são e está tão arraigado em nós, que fica quase impossível saber quando e como acabamos por desviar dos propostos postulados novamente. Ainda assim gosto de acreditar que viver não é, e nem pode ser algo complicado, e que nós complicamos os fatos. Isso pode ser um clichê, mas existem alguns clichês que pude comprovar serem verdadeiros ao longo dos meus 42 anos de idade, por exemplo, onde há fumaça... Ha fogo!

Hoje olhando para o passado, distante e recente, vejo que parei de compartilhar muitas coisas, não só meus textos, mas minhas emoções, meus desejos, minhas ansiedades, meus momentos felizes e até mesmo as minhas tristezas, seja através dos meus textos ou através de conversas com amigos, por telefone, por e-mail ou mesmo pessoalmente. Eu fui isolando-me, escondendo-me, aceitando e resignando-me com as escolhas que fiz ao longo da vida. Em nome de sentimentos, amores e paixões, tomei atitudes que me custaram mais do que lágrimas e noites de insônia, atitudes essas que serei obrigado a lidar com as consequências pelo resto de meus dias. Usei o ritmo desvairado do meu trabalho para justificar minhas ações. Coloquei-me em situações onde tive minhas capacidades profissionais e emocionais colocadas em cheque e fui puxado e testado para além dos meus limites, lidei com a rejeição e com a preocupação que somente adultos, pelo menos a maioria deles, sentem.

É claro que tudo isso aconteceu com o meu aval, na maior parte das vezes inconsciente, o elemento consciente existiu, pois a cada dia eu permitia ser sugado mais e mais para dentro dessa roda vida chamado stress, e claro foi sem muita surpresa que acabei por negligenciar pessoas, fatos, acontecimentos e sentimentos, mas acima de tudo isso, eu negligenciei a mim mesmo e as minhas próprias necessidades.  

Já foi dito por várias pessoas e em várias ocasiões que o mais triste nesse mundo é que todo indivíduo possui as suas razões, até mesmo assassinos e estupradores. Eu acreditava que estava tomando as atitudes corretas, que era preciso trabalhar mais para ganhar mais dinheiro, para poder pagar e manter o estilo de vida conquistado, que tudo, um dia, em um futuro próximo seria justificado. Um sentimento meio católico, e olha que nem religioso eu sou! Onde todas as ações, boas e más, seriam perdoadas e justificadas em nome do companheirismo, da promessa de não chegar à fase tardia da minha vida, sozinho.

Não existem certezas nessa vida, mas a realidade é que me escondi por de traz de uma relação, onde eu acreditava estar recebendo o que eu precisava, ou pelo menos apontando para a direção correta, enquanto na verdade, nem eu mesmo sabia que, o que eu estava recebendo, ou mesmo oferecendo para a outra pessoa, não era o que eu queria, ou muito menos o que a outra pessoa precisava ou estava à espera, “Você deu-me remédio para dor de cabeça, mas eu estava com dor no pé”.

Com o passar do tempo eu percebi que o que eu recebia não era o que eu queria, mas na época, eu fui simplesmente acostumando-me com tudo e aceitar a vida como ela, era tornou-se algo corriqueiro. Eu sempre dizia para mim mesmo, “Isso é a vida”, ou pior “Não tenho isso, mas pelo menos, tenho aquilo, “É preciso passar por isso para se chegar a algo melhor”, enfim, atitudes que hoje, com clareza, sei que não foram as mais acertadas, pois elas me conduziram para um lugar onde a ignorância fez morada e eu não fui capaz de distinguir o que era desejos da minha ilusão ou realidade, ou ainda o que as outras pessoas realmente desejavam ou estavam à espera. Mesmo quando eu questionava, não era um questionamento com profundidade, era algo superficial, pois eu precisava continuar a “viver”, eu não via outra saída, não existia outro caminho, era lutar ou lutar! Além do mais, quem era eu para questionar isso? A cada dia, em meu caminho para o trabalho, em meio ao mar de gente que compartilhavam o trem para Londres, eu podia ver as mesmas expectativas e ansiedades que eu estava enfrentando, estampada nos rostos que me rodeavam, e de alguma forma aquilo me consolava, aquietava-me a alma, pois eu não era a única pessoa no mundo perdida no processo de “viver”, e assim em meio a esse conformismo coletivo, nos tornamos parceiros da luta cotidiana.

Não existe certo ou errado em relações humanas. Ninguém pode condenar uma pessoa por desejar algo na vida, e todos nós temos o direito de ir atrás daquilo que acreditamos ser o melhor para nós. Isso, posto dessa forma é muito bonito e correto, mas é claro que temos problemas em aceitar determinadas resoluções, pois nos causa dor, ressentimento e mágoas, principalmente quando você continua a acreditar que os fins justificam os meios. Enfim, também é verdade que de alguma forma devemos trabalhar estes sentimentos em nossas mentes. Não, não é fácil! Ninguém disse que seria, mas também não é impossível.
Uma vez disseram-me que amigos são anjos que são colocados na nossa vida para nos mostrar o caminho correto, quando nos sentimos perdidos. Eu considero-me muito afortunado por ter alguns “anjos” em minha vida; sim porque maridos, esposas, namorados e namoradas, infelizmente, vêm e vão! Amigos? Ficam! E acredite-me, você precisa deles para te dar outra perspectiva do que você esta realmente fazendo com a tua vida.

Lembro-me quando eu era criança, minha mãe sempre dizia que meu pai sempre deu mais valor aos amigos do que a própria família… Bom, acho que meu pai não e o melhor exemplo para ser usado aqui. De qualquer forma, meu ponto é não importa o quão acuado, ou repetitivo você esteja se sentindo, os seus amigos vão entender que você está simplesmente passando por um processo de limpeza da alma, que às vezes é preciso se repetir até chegar o momento da clarificação, aquele momento onde finalmente você te escuta e as peças do quebra cabeça se acertam e você consegue ver a figura se formando na sua frente, ou seja, a ficha caiu! Infelizmente é através da repetição que aprendemos e fixamos o conhecimento, alguns chamam esse processo de aprendizagem ou memorização. Lembra-se da tabuada? Portanto…

Use os seus amigos, mas não abuse, e não tenha medo de se expor, eles vão te dizer quando parar se for o caso, mas o certo é que provavelmente você vai perceber quando parar por conta própria.
Hoje eu olho para o futuro com confiança, mas com ansiedade, e para ser sincero, às vezes com medo. Tenho dias melhores, e dias piores, tento focar-me nas coisas boas e na esperança de que dias melhores virão e que os desafios serão superados, mas confesso que existem momentos em que sinto um frio na barriga e chego a achar que sou uma farsa, que não sou essa pessoa forte que meus amigos veem e admiram, mas de uma coisa eu tenho certeza, é preciso pelo menos tentar, se não por mim, pelo menos por todos os “anjos” que sempre acreditaram em mim e que me amam.

Como um dia disse Cazuza “Um sorriso não significa sempre que estamos felizes, mas sim o quão somos fortes.

Sorria sempre, respeite seus amigos sempre. Um abraço e um bom dia.

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